O PAPEL DO PROFESSOR NO
INCENTIVO À LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Por que motivo às
crianças, de modo geral, são poetas,
e, com o tempo,
deixam de sê-lo?
(CARLOS DRUMONND DE
ANDRADE, 1974).
Contar histórias e se interessar por elas são um dos poucos traços humanos verdadeiramente universais em todas as culturas, elas promovem a coesão social de grupos e servem como um valioso método de transmissão de conhecimentos para as diferentes gerações. Baseado nisso a escola tem o compromisso de garantir a seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos e nesses enquadram-se a leitura. Pensar em atividades de incentivo a leitura nas séries iniciais do Ensino Fundamental é essencial, e ao Professor cabe o papel de incentivador e auxiliador dessas ações.
É de conhecimento, porém, que ler é uma tarefa que esta longe de ser fácil, é mais cômodo assistir a um filme, a um programa de televisão, ou mesmo navegar na Internet, por isso o hábito de leitura é uma das tarefas mais importantes que a escola pode oferecer e desenvolver. A leitura é uma atividade de extrema importância para qualquer área de conhecimento, e está relacionada intimamente com o sucesso não apenas acadêmico, mas também social e econômico dos indivíduos, uma vez que alicerça sua capacidade de posicionamento a cerca de si mesmos e da realidade que os cercam, estimula sua criatividade e a percepção de variados pontos de vista.
Pesquisas como as realizadas pela Câmara Brasileira do
Livro, publicadas na Revista Nova Escola (agosto de 2006), apontam que 61% dos
brasileiros entre 15 e 64 anos tem muito pouco ou nenhum contato com os livros,
30% localizam informações simples em uma frase, 37% localizam informações em
textos curtos e apenas 25% estabelecem relações entre textos longos. A mesma
reportagem posiciona o Brasil como um dos países onde o hábito da leitura ainda
é muito pouco valorizado, os brasileiros lêem em média 1,8 livros por ano,
enquanto os franceses lêem sete, entre os americanos e os italianos a média é
de cinco livros.
A escola é um espaço social e como tal deve ser o local
próprio para que sejam construídos conhecimentos, habilidades, competências e
mudanças de comportamento, visando o desenvolvimento de uma consciência crítica
e reflexiva nos sujeitos a ponto de que estes sejam capazes de transformar a realidade.
A escola atual pressupõem a educação escolar como parte integrante da
sociedade, contribui para a democratização das relações de poder e
conseqüentemente para a melhoria da qualidade de ensino. Nesse sentido cabe a
escola, mais efetivamente aos seus educadores, a tarefa de preparação do ato de
ler, que passa não apenas pela ação visual-motora, mas requer um reconhecimento
das vivências culturais do público a quem se destina.
Nesse sentido afirma Maria da Glória Bordini e Vera
Teixeira de Aguiar (1993), que,
A formação escolar do leitor passa pelo crivo da cultura em que este se enquadra. Se a escola não efetua o vínculo entre a cultura grupal ou de classe e o texto a ser lido, o aluno não se reconhece na obra, porque a realidade representada não lhe diz respeito. Mesmo diante de qualquer texto que a escola lhe proponha como meio de acesso a conhecimentos que ele não possui no seu ambiente cultural, há a necessidade de que as informações textuais possam ser referidas a um background cujas raízes estejam nesse ambiente. (p.17)
A formação escolar do leitor passa pelo crivo da cultura em que este se enquadra. Se a escola não efetua o vínculo entre a cultura grupal ou de classe e o texto a ser lido, o aluno não se reconhece na obra, porque a realidade representada não lhe diz respeito. Mesmo diante de qualquer texto que a escola lhe proponha como meio de acesso a conhecimentos que ele não possui no seu ambiente cultural, há a necessidade de que as informações textuais possam ser referidas a um background cujas raízes estejam nesse ambiente. (p.17)
Poucas crianças têm o hábito de ler em
nosso país. A maioria tem o primeiro contato com a literatura apenas quando
chega à escola. E a partir daí, vira obrigação, pois infelizmente muitos de
nossos professores não gostam de trabalhar com a literatura infantil e talvez
desconheçam técnicas que ajudem a "dar vida às histórias" e que,
conseqüentemente, produzam
conhecimentos, abram portas para eles. Muitos não levam em conta o gosto e a
faixa etária em que a criança se encontra, sendo que muitas vezes o livro
indicado ou lido pelo professor está além das possibilidades de compreensão
dela em termos de linguagem e abordagem temática.
Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de
aprendizagem. Entre elas estão os valores apontados no texto, os quais poderão
ser objeto de diálogo com as crianças, possibilitando a troca de opiniões e o
desenvolvimento de sua capacidade de expressão. O estabelecimento de relações
entre os comportamentos dos personagens da história e os comportamentos das
próprias crianças em nossa sociedade, possibilitando aos professores
desenvolverem os múltiplos aspectos educativos da literatura infantil.
De acordo com Abramovich (1995), ...ler histórias para crianças,
sempre, sempre... É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas
personagens, com a idéia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e,
então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de
divertimento... É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida
em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar
questões (como as personagens fizeram...). É uma possibilidade de descobrir o
mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e
atravessamos - dum jeito ou de outro - através dos problemas que vão sendo
defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de
cada história (cada uma a seu modo) ... É a cada vez ir se identificando com
outra personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo
vivido pela criança) ... e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades
ou encontrar um caminho para a resolução delas ...(p.17)
Ouvir e ler histórias é entrar em um mundo encantador, cheio ou não
de mistérios e surpresas, mas sempre muito interessante, curioso, que diverte e
ensina. É na relação lúdica e prazerosa das crianças com a obra literária que
temos uma das possibilidades de formarmos o leitor. É na exploração da fantasia
e da imaginação que se instiga a criatividade e se fortalece a interação entre
texto e leitor. Quem de nós não lembra com saudades das histórias lidas e
ouvidas quando crianças? Daquelas historinhas contadas por nossos pais ao pé da
cama antes de dormir? Ou daquelas contadas e interpretadas pela professora nas
primeiras séries do ensino fundamental? Ou mesmo quem nunca sonhou em ser uma
princesa de contos de fada? Ou o príncipe que acaba com o mau?
Na interação da criança com a obra literária está a riqueza dos aspectos formativos nela apresentados de maneira fantástica, lúdica e simbólica. A intensificação dessa interação, através de procedimentos pedagógicos adequados, leva a criança a uma maior compreensão do texto e a uma compreensão mais abrangente do contexto.
Na interação da criança com a obra literária está a riqueza dos aspectos formativos nela apresentados de maneira fantástica, lúdica e simbólica. A intensificação dessa interação, através de procedimentos pedagógicos adequados, leva a criança a uma maior compreensão do texto e a uma compreensão mais abrangente do contexto.
A Literatura Infantil não é uma cópia do real, nem tão
pouco mera fantasia que se asilou dos sentidos do mundo e da história, muito
menos exercício puro de linguagem. Uma obra literária de qualidade é aquela que
mostra a realidade de forma nova e criativa, deixando espaços para que o
leitor, no caso as crianças, descubram o que está dito nas entrelinhas do
texto, permitindo dessa forma que sua imaginação flua e realize as mais
fantásticas viagens possíveis.
Referências
bibliográficas:
ABRAMOVICH, F. Literatura
infantil: gostosuras e bobices. 5.ed.São Paulo: Scipione, 1995.
SARAIVA, Juracy Assmann. Literatura
e Alfabetização – Do plano do choro ao plano da ação. Porto
Alegre,RS:Artmed Editora, 2001.
BORDINI, Maria da Glória e AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: A Formação do Leitor.
2. ed. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto, 1993.
Colaboração : Juliana Luersen
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